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Literata 2012: O racismo de Lobato no centro do debate

A polêmica marcou o terceiro dia da Literata em Sete Lagoas (MG) nesta sexta-feira. O politicamente correto na literatura foi o tema da conversa entre o jornalista Eugênio Bucci, o escritor Reinaldo Morais e o curador da Literata Humberto Werneck. Cerca de 300 pessoas acompanharam o debate e participaram de um bate-papo sobre o assunto.

“Você deixaria o seu filho ler uma obra em que um dos personagens é chamado de ‘preta’ por outro personagem?”, questionou Humberto Werneck, se referindo ao movimento que pretende barrar a distribuição de algumas das obras de Monteiro Lobato pelo governo. O jornalista Eugênio Bucci respondeu rapidamente que nunca teve problemas em controlar a leitura de seu filho. “A criança tem total capacidade de entender o contexto social da obra que está lendo”, pontuou.

"Não existe literatura sem maldade, pois seria uma chatice", fala Eugênio Bucci

Bucci aproveitou a conversa para explicar a polêmica ao público. Nos últimos dois anos, a obra de Monteiro Lobato está sendo questionada por alguns movimentos sociais, como o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), frente à Controladoria-Geral da União (CGU). Eles solicitam que as obras deixem de integrar o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que distribui livros a bibliotecas escolares de todo o país. “É importante educar as crianças a partir da tolerância e da harmonia entre as diferenças. Isso é um ponto positivo do ‘politicamente correto’, mas não podemos deixar o governo controlar a interpretação da arte. Isso seria um retrocesso”, avalia Bucci.

Já o escritor Reinaldo Morais avalia que a obra deve ser lida a partir de seu contexto social e concluiu que o escritor atual deve criar com o “politicamente correto” em mente. “Alguns termos e expressões preconceituosas soam estranhamente rudes aos ouvidos civilizados. Hoje, não dá para ser ingênuo como Monteiro Lobato”, comentou durante o debate. Morais relatou a sua dificuldade em não passar do ponto na construção de alguns de seus personagens.

"O problema do preconceito é quando ele se institucionaliza", fala Reinaldo Morais

O último dia da Literata acontece neste sábado, 10, com diversas atividades para crianças e jovens. E à noite, a partir das 20h, no Espaço Urupês, o debate será sobre a relação entre quadrinhos e literatura, com Claudiney Ferreira, Wellington Srbek e João Marcos.

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2 Comentários
  • Rafaela - Tudo em Foco

    Concordo que não se pode ter preconceito, mas essa discussão sobre a obra de Monteiro Lobato está beirando o ridículo. Como disse o jornalista, existe o contexto histórico e toda criança deve aprender o que é isso. Além disso, apesar de a palavra “preto” não ser politicamente correta, não precisamos exagerar e levar tudo para o extremo. Ao meu ver, isso também é reforçar o preconceito. Lobato é um grande escritor, um dos melhores da literatura brasileira e não pode ser excluído das escolas porque supostamente seria preconceituoso. Por que não aproveitam para os professores ensinarem o que é preconceito e contexto histórico? Seria uma boa oportunidade.

    10/11/2012 no 6:26 pm Responder
  • Rejane Félix

    Gostaria de parabeniza a Iveco e todos os organizadores da Literata, tão brilhante evento. São ações assim que engradecem o ser humano.

    11/11/2012 no 4:55 pm Responder

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